sábado, 14 de novembro de 2009

Chevrolet Agile, de premium, só tem equipamentos

Rádio com sistema Bluetooth e bom nível de equipamentos não compensa motor fraco e acabamento deficiente

Quando você faz muita propaganda de alguma coisa, corre sempre o risco de criar expectativas exageradas. Como dizer que um filme apenas mediano é sensacional. A Chevrolet tem um certo hábito nisso. Aconteceu com o Celta, com o Prisma, com o Vectra e, agora, com o Agile. Vendido como um carro revolucionário, quase extraordinário, o hatch pequeno decepciona em muitos aspectos. Promete e não cumpre; parece, mas não é.
O primeiro deles é o desenho. É certo que ninguém fica indiferente a ele, força, também, do fato de ele ser um rostinho novo no mercado. Se isso fosse suficiente para boas vendas, o Agile estaria em excelente posição.


Não existe meio termo: há quem o ache lindo e quem o ache horroroso, devido à dianteira desproporcionalmente grande. Promete um carro maior do que ele realmente é. Como gosto é algo muito pessoal, cá entre nós.

O estilo não seria uma preocupação muito intensa se o carro tivesse bom desempenho, acabamento acima da média e um preço atraente diante de seus concorrentes. Destes itens todos, o Agile só se sai bem no último quesito: preço. Todo o restante traz algum tipo de “porém”.

Falhas

Apesar de o interior ter uma proposta sofisticada, com painéis em dois tons e um desenho moderno, a qualidade dos materiais é baixa. Os plásticos são duros, superiores apenas aos usados no primeiro modelo do Celta e bem distantes dos plásticos revestidos de borracha presentes em veículos da concorrência.


Não bastasse a questão da textura e da rigidez dos materiais, eles também têm acabamento deficiente, com rebarbas em lugares muito visíveis, como as junções das colunas (veja foto abaixo). As saídas de ar laterais do painel central chegam a ter aletas afiadas. Machucar os dedos ali não é nada difícil.


Em carros que trazem muitos plásticos, a questão do barulho, com o tempo, deve preocupar. No Agile, notam-se diversas aplicações de borracha em pontos estratégicos, o que tanto pode ser um cuidado de projeto, algo pouco provável, quanto um remendo de última hora, realizado depois de testes de durabilidade demonstrarem que essas peças vão fazer barulho com o tempo. Até o suporte do cinto de segurança do banco dianteiro direito trazia as tais borrachinhas.

Detalhes de design tentam deixar o carro mais sofisticado, como já dissemos. Exemplo disso, além do painel, são os bancos, de estilo bastante jovial, os trincos das portas dianteiras, em posição insólita (no extremo superior dos puxadores das portas, o que os deixa mais sujeitos a quebras) e as aplicações de tecido nas portas. Até a iluminação azul do carro busca esse ar “cool”.

É pena que a iluminação azul cansa a vista, depois de longo períodos de direção, e que os mostradores, sob incidência de luz solar, se tornam praticamente ilegíveis. Quando a luz externa permite, o painel digital central também mostra uma “pegadinha”: o ar-condicionado, que parece digital, só tem mostradores digitais. Em outras palavras, não há indicação da temperatura correta, só de “mais quente” ou “mais frio”.

Se tudo isso fosse descontado, haveria ainda outras questões, talvez pontuais, apenas da unidade avaliada, mas que vale a pena citar, até porque carros de avaliação de imprensa costumam passar por uma inspeção que modelos comuns não sofrem. O Agile LTZ que dirigimos estava com a capa inferior de plástico do banco dianteiro direito solta. Não houve jeito de encaixá-la. O mesmo se deu com a alavanca de abertura do capô, que se desprendeu do cabo (veja fotos abaixo).

Abrir o compartimento do motor, aliás, mostra que o cofre tem uma cor muito diferente da que o carro todo ostenta. Também deixa claro que os plásticos (para-choque e companhia) parecem mais escuros que o restante da carroceria. Se o Agile não fosse novo, alguém poderia pensar que ele já enfrentou funilaria.


Ao volante


Em termos de espaço interno, o Agile se beneficia de um entre-eixos de 2,54 m, maior que o do Honda Fit e pouco menor que o do sedã City, o que lhe confere espaço de carro médio, especialmente pelos bancos com “ponto h” alto, ou seja, de assento alto em relação ao piso. É um conceito semelhante ao usado pelos Fiat Mille e Palio e pelo VW Fox. O concorrente alemão, aliás, é o alvo do Agile desde sempre.

Os bancos altos só acabam prejudicando o espaço que ocupantes mais altos têm para a cabeça. O acesso aos assentos traseiros, em razão da curva do teto, também não é dos mais cômodos, assim como o apoio dos bancos de trás para as coxas. Em certos momentos, a impressão que se tem é de estar andando em uma picape média, veículos cujos bancos são exatamente assim: deixam a sensação de que as pernas estão sem apoio.

O porta-malas do Agile é o mais amplo do segmento: são 327 l, segundo a GM, maior até que o do Renault Sandero, modelo médio vendido a preço de compacto, que tem 320 l de compartimento de carga. Ganchos no assoalho do carro permitem o uso de uma rede para prender compras e pequenos objetos.

Antes de colocar o carro em movimento, cabem elogios ao fato de o carro vir praticamente completo desde a versão LT. Ele tem regulagem de altura dos cintos, do banco do motorista e do volante. Fica faltando a regulagem de distância da coluna de direção, mas, diante da Nissan Livina, que não tem regulagem nem de altura do banco nem dos cintos, o Agile parece repleto de recursos.

Com essas regulagens, não é difícil achar uma boa posição de dirigir (a melhor exigiria regulagem de distância do volante). Mas o motor não ajuda muito a minimizar as falhas do novo compacto.

O motor 1,4-litro parece pequeno para o carro, tanto quando se olha sob seu capô quanto quando se exige força do compacto. O Agile, aliás, deve conquistar fãs entre os reparadores, que terão espaço de sobra para trabalhar. Fora isso, ele não tem lá muita disposição e o motor demora a crescer de giro, característica típica dos propulsores da marca norte-americana.

A posição alta de dirigir e a pouca força do motor desestimulam uma condução mais esportiva. Aliás, o Agile talvez tenha só o motor 1,4-litro justamente porque sua altura em relação ao solo exige mais parcimônia ao pisar no acelerador. Pena é o motor decidir isso pelo motorista.

Motores fracos só são econômicos nas mãos de pessoas sem pressa de chegar a lugar nenhum, ou que têm medo do acelerador. Em outras palavras, o motorista médio, em busca de um desempenho minimamente aceitável, vai ter de pisar mais no acelerador do Agile. Isso eleva o consumo. Conosco, ele fez 5,5 km/l de álcool, o que não é exatamente ruim.

O que o Agile tem de bom, mesmo, é seu pacote de itens de série. Mesmo na versão mais simples ele conta com bancos rebatíveis (inclusive o do passageiro dianteiro, para carregar cargas compridas), ar-condicionado, travas elétricas e vidros elétricos apenas na dianteira, controlador de velocidade, direção hidráulica, computador de bordo, acendimento automático dos faróis, limpador e desembaçador do vidro traseiro e ajuste de altura do banco do motorista e da direção. Tudo por R$ 38.107, valor já mais alto que o anunciado no lançamento do carro, de R$ 37.708.

Na versão LTZ, a que avaliamos, o carro traz a mais rodas de liga-leve de aro 15”, espelhos retrovisores elétricos, um excelente rádio com MP3, toca-CD, Bluetooth e entrada para USB e faróis de neblina. Lanterna de neblina, airbags dianteiros, vidros elétricos traseiros e ABS com EBD são itens opcionais.

Se os concorrentes tivessem pensado nisso, especialmente o VW Fox, cuja remodelação foi recentemente apresentada, neutralizariam praticamente tudo que o Agile tem de melhor: ser completo por um preço relativamente baixo e numa versão que já traz todos estes itens de série, o que valoriza a revenda.

Para quem procura um veículo novo, espaçoso e completo, o Agile pode ser uma boa pedida. Desde que o cliente interessado nessas coisas faça vista grossa para desempenho e acabamento e, em alguns casos, estilo, dependendo do gosto.
Fonte: Webmotors