sexta-feira, 15 de maio de 2009

Influência da redução do IPI nas vendas

Mais uma vez o mercado reagiu além da expectativa dos dirigentes e analistas

Se nas vendas totais de veículos o quadrimestre registrou pequena queda em relação ao mesmo período do ano passado (- 0,7%), no segmento de carros e comerciais leves as vendas se mantiveram estáveis. Na verdade, houve um crescimento residual, de 0,13%.

Mais uma vez o mercado reagiu além da expectativa dos dirigentes e analistas, que apostavam em queda de vendas em abril, por conta da prorrogação da redução do IPI (vai até 30 de junho). O discurso era de que o consumidor tinha antecipado as compras em março e que agora o mercado iria se acomodar.

Os números mostraram, no entanto, que a redução do IPI não tem tanta influência como dizem os fabricantes. A retirada/redução do imposto teve como resultado uma queda de 5% no preço final. Um desconto desses é habitual no mercado de carros, portanto não foram os 5% que provocaram a reação do mercado e sim a atitude do governo, que reagiu na hora certa, abriu mão da arrecadação, mostrou que está atento e que não vai deixar a crise tomar conta da economia, interferindo para que o País se mantenha saudável nesse momento de turbulência mundial.

Cinco por cento o consumidor tem de desconto a qualquer tempo, em qualquer concessionária. Basta regatear e ameaçar ir até uma das 3.528 concorrentes (existem 3.529 concessionárias de carros e comerciais leves no Brasil).

O mercado brasileiro está vivo, dinâmico, o consumidor não foi envolvido pela crise made in USA. E as vendas têm tudo para crescer. O único senão é a restrição de crédito, especialmente nas faixas mais baixas do mercado, no segmento de entrada. Mas o balanço de abril mostra que a liberação do crédito para bancos pequenos e médios já surtiu efeito: aumentou a participação de carros de entrada (motor 1.0) nas venda totais.

A avaliação da Fenabrave, a federação que reúne os distribuidores (e que chegou a prever queda de 19% para este ano), é de que o mercado deve se estabilizar nos níveis registrados no primeiro quadrimestre (média de 225 mil carros por mês), o que daria 2,7 milhões de veículos. Mas muita gente aposta em vendas acima desse patamar. O próprio ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, acredita na expansão do mercado este ano e os presidentes da Ford, Marcos Oliveira, e da Fiat, Cledorvino Belini, afirmaram ontem (11) que já apostam em crescimento em relação ao ano passado. Belini, assim como Marcos Munhoz, diretor de vendas da GM, admitiram que subestimaram o poder de compra do consumidor e reduziram a produção no primeiro trimestre. Agora estão ampliando a produção para atender a demanda.

O presidente da Anfavea, Jackson Schneider, acha, no entanto, que o bom desempenho do mercado foi unicamente graças à redução do IPI. A indústria quer a prorrogação da redução do imposto, embora Jackson não acredite que isso vá acontecer. Lutar contra imposto é uma questão de princípio para parte do empresariado, que só dá valor para a arrecadação pública quando precisa dos préstimos do governo.

O dirigente estima que a queda de vendas de janeiro a abril teria sido de 20 % a 30% se o IPI não tivesse sido reduzido. E deixa transparecer que, se o benefício acabar em junho, as vendas no segundo semestre deverão cair. De fato poderão cair, se as montadoras aumentarem os preços dos seus carros, o que certamente farão. Por enquanto as montadoras não estão reajustando as tabelas, mas também não estão dando descontos e bônus para as concessionárias, o que é comum no mercado. Se o fim da redução do IPI vier acompanhado de aumentos de preços, aí sim o consumidor vai se afastar das compras. Mas, nesse caso, não será honesto culpar o fim do benefício do IPI por uma eventual queda de vendas.

A propósito, fiz um levantamento para verificar qual o aumento real de preço de cada carro no mercado de outubro (antes da redução do IPI) até hoje. Estima-se que a redução de sete pontos percentuais do IPI resultaria em uma redução de 5% no preço final do veículo. Pois apenas 100, dos 717 carros comercializados no Brasil (considerando todas as opções de motor, acabamento e carroceria) tiveram queda de preço entre 4% e 5% no período.

Todos os demais 617 modelos tiveram comportamento bem diferente, o que prova que a redução do imposto não foi determinante para a formação do preço final do carro e, portanto pouco influiu financeiramente na espetacular recuperação de vendas verificada este ano.

Nada menos do que 103 carros tiveram queda de preço de mais de 10% no período outubro-abril. Em alguns casos os descontos passaram de 20%, entre eles, quatro carros da Hyundai, não por acaso a marca que mais cresceu em vendas no mês passado. Santa Fé (-27,0%), Azera 2.2 automático (-22,4%), Tucson 2.7 (-21,9%) e o Tucson 4x2 (-21,3%) estão entre os carros que mais caíram de preço.

O Passat 3.2 está sendo vendido a 26,8% mais barato, o Subaru Forester caiu 22,7%, e o Sportage está custando 21,7% menos. Ainda com desconto de mais de 20% estão o Nissan Pathfinder SE (-20,7%) e o Passat 2.0 (-20,6%). Repare que a maioria dos carros com os maiores descontos nem mesmo foi beneficiada pela redução do IPI, porque têm motor acima de 2000cc.

Outra dezenas de modelos, ao contrário, teve aumento de preço de mais de 5% no período. É o caso do BMW 335i Sport (+9,3%), do Mitsubishi Outlander 3.0 (+8,9) e o Jipe Troller T-4 3.0 4x4 (+4,7).

Os números mostram que não há controle do preço e que o benefício da redução do imposto já foi engolido pelo mercado.

Veja ao abaixo a relação dos carros que mais subiram de preço e os que mais caíram de outubro de 2008 a abril de 2009.

Texto: Joel Leite









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